junho 17, 2002

FANÁTICO POR FUTEBOL
Era a sua primeira semana de trabalho na empresa. Seleção nas oitavas de final da copa do mundo. Jogo estilo mata-mata.
Todos combinaram de ver o jogo no escritório.
Ele chegou cedo e foi pegando um lugar no meio da sala, na frente da tv.
Todos achavam ele muito quieto, mas parecia ser boa gente. Educado e prestativo, em silêncio mas sempre sorrindo.
Começa o jogo, todos na sala.
-Onde está a garrafinha da café?
-Acho que lá dentro.
-Schhhhhhh! Vâmo pará! Ele diz virando a cabeça para trás. Todos acham estranho tal atitude, mas encaram com naturalidade.
-Pôrra! Vai, vai! Ô defesa de merda!
Os colegas de escritório estranham aquele rapaz até então tímido, falar tantos palavrões durante o jogo.
-Quem quer bolo?
-Nossa, que bolo bom! Quem foi que fez?
-Pôrra! Dá pra parar?! Vocês vieram aqui pra ver o jogo ou comer? Não tô conseguindo prestar a atenção, porra!
-Calma Inácio.
Inácio era o nome dele. Ele estava muito nervoso.
-Passa essa bola, desgraçado! Porra! Puta merda! Filho da puta! Vai, vai!!!
Todos já olhavam ele estranhamente. Aquele rapaz gritando no meio da sala não parecia nenhum pouco o estagiário tímido que não falava com ninguém.
-Inácio, quer bolo?
-Porra! Vai à merda! Olha aí. Perdi a jogada, seu filho da puta!
-Pô Inácio, pega leve aí.
Na mesma hora, a sua chefe levanta e, sem querer, para na frente da televisão tentando pegar um pouco de café sobre a mesa.
-Sai daí, sua puta! Pôrra! Sai fora! Olha lá, olha lá!
O jogo acabou e ninguém sorriu. Nem mesmo a vitória no mata-mata conseguiu fazer com que todos parassem de olhar para o Inácio. Ele se levantou quieto e foi para o banheiro.
Toc toc toc...
-Inácio, passa na minha sala quando saíres, ok?
-Ok, dona Lívia.
...
-Pois não, dona Lívia.
-Inácio, podes me explicar a tua atitude durante o jogo?
-Qual atitude, dona Lívia?
-Ora! Como “qual atitude”? Os palavrões, os xingamentos. A Márcia até chorou, tu não viu?
-Chorou? Não vi, não. Por que? Nós ganhamos.
Até que o Jorge ligou a tv para os melhores momentos.
-Inácio, isso não é atitude que se tem...
-Pôrra! Olha lá! Aí...quase nessa. Mas são uns putos! Mariquinha, mariquinha.
-Inácio!
-Cala a boca, puta. Olha lá!

junho 07, 2002

UM SONHO CHINÊS - IV
Em certa manhã Jack não veio ao encontro de Kun para lhe entregar os jornais.
O chinês ficou na esquina a manhã inteira esperando o seu “sócio”.
A tarde passou, a noite chegou e Kun ainda esperava por Jack.
Chiau estava com fome, então os dois saíram para procurar comida.

Por volta das dez horas da noite os dois caminhavam por uma rua do Queens, quando foram surpreendidos por um maverick escuro:
- Hei china!
Kun olhou assustado.
- Hei china, come here!
Kun pegou Chiau no colo e começou a correr. Entrou em um beco onde o carro não conseguia passar. Os homens pararam o carro e vieram atrás deles a pé.
O beco ficava entre dois prédios. Era um lugar cheio de latões de lixo e ratos. E no final, para o desespero de Kun, havia uma cerca impulável!
- Te pegamos, china. Não adianta tentar fugir. Onde está Jack?
- Eu não saber!
- Fala, seu bastardo! Fala onde está aquele desgraçado!
- Eu não sabber! Kun estava apavorado.
Nesse momento Chiau começou a latir.
- Cale a boca desse cachorro, seu chinês idiota!

Jack havia fugido. Os homens que procuravam por ele eram traficantes. Ele lhes devia muito dinheiro. Eles sabiam que Kun e Jack eram amigos e decidiram procurar o chinês. Mas o pobre imigrante não sabia de nada. Ele e seu cachorro só tentavam sobreviver.

Kun apanhou muito naquela noite. E o pobre Chiau presenciou toda a covarde agressão daqueles bandidos insensíveis.
O pobre cão lambia os ferimentos de Kun tentando assim, diminuir seu sofrimento.

Então Kun se ajoelhou, pegou Chiau em seus braços, olhou para o céu cinzento e gritou:
- Chiau Chiau, nunca mais seremos humilhados novamente. Nunca mais apanharemos, passaremos frio, sentiremos fome! A mãe América é boa mas severa. Seremos poderosos e ninguém ousará cruzar nosso caminho.
Chiau concordou:
- Aaauuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!!!
DIRETO DA CLÍNICA DE TRASNSTORNOS - sexta-feira

VOLTEI. ONTEM FOI DIFÍCIL. O MÉDICO MUDOU A DOSAGEM DA MINHA MEDICAÇÃO. DORMI O DIA INTEIRO, MAS PELO MENOS ME DESAMARRARAM. DE NOITE TINHA CANJA DE GALINHA, MAS VOMITEI TUDO. NÃO CONSEGUI DORMIR DE NOVO ESSA NOITE. AS DORES DE CABEÇA AUMENTARAM.
AMANHÃ É SÁBADO E MINHA MÃE VEM ME VER. ESTOU COM SAUDADES DELA.
ISSO AQUI É UM LIXO. O BANHEIRO NÃO É LÁ COMO AQUELES DE HOTEL. A SERVENTE PASSA UM PANINHO E DEU!
DE REPENTE VOLTO PRA CASA NESSE FINAL DE SEMANA. VAMOS ESPERAR!

junho 06, 2002

DIRETO DA CLÍNICA DE TRASNSTORNOS - quinta-feira

BOM DIA! PASSEI UMA NOITE HORRÍVEL. O CARA DO QUARTO AO LADO DO MEU NÃO PARAVA DE GRITAR. LÁ POR UMAS TRÊS DA MANHÃ OS ENFERMEIROS ENTRARM NO QUARTO DELE E ENCHERAM O CARA DE BOLACHA. VOU RECLAMAR MENOS DO MEU ATENDIMENTO AQUI.
O MELHOR DAQUI É A SOPA E OS DESENHOS NA TV. AH, E VI FRANÇA E URUGUAI, HEHEHE...VCS NÃO.
HOJE DE TARDE TENHO CHOQUE E ME PROMETERAM ME DESAMARRAR.
AS DORES VOLTARAM, MAS O COQUETEL NÃO AUMENTOU.

junho 05, 2002

OBA! TÁ CHEGANDO A SOPINHA. DEPOIS DA SONECA EU VOLTO. VOU FALAR DA ENFERMEIRA PRA VOCÊS.
DIRETO DA CLÍNICA DE TRASNSTORNOS - quarta-feira

OI GENTE. ATÉ QUE DÁ PRA CURTIR O RIO DE DENTRO DESSE QUARTO HORRÍVEL. CONSEGUI UM MICRO DEPOIS DE MUITO CUSTO. ESTOU BEM. QUERO AGRADECER AS MENSAGENS CARINHOSAS E PREOCUPADAS. ME INTERNEI SEGUNDA-FEIRA COM FORTES DORES DE CABEÇA E UMA VONTADE ENORME DE EXPLODIR ALGUMA COISA. MAS ESTOU MELHOR. A DOR DE CABEÇA PASSOU, SÓ DÓI AGORA OS BRAÇOS POR CAUSA DAS AMARRAS DE COURO NA CAMA. MAS O DOUTOR ME DISSE QUE SE EU ME ACALMAR ELE ME DESAMARRA. TOMARA! O ELETROCHOQUE NÃO É TÃO RUIM, NÃO. O AUSTREGÉSILO AUMENTOU UM POUCO.

junho 04, 2002

QUEREMOS INFORMAR QUE POR PROBLEMAS CEREBRAIS O AUTOR DESSE BLOG ESTÁ INTERNADO EM UMA CLÍNICA PARTICULAR NO RIO DE JANEIRO.
ASSIM QUE CONSEGUIR UM COMPUTADOR CONECTADO À INTERNET, ELE CONTINUARÁ SUAS HISTÓRIAS.
DESCULPEM O TRANSTORNO E PASSEMOS BOAS ENERGIAS AO ESCRITOR.