maio 31, 2002

UM SONHO CHINÊS - III
O jornaleiro se chamava Jack. Era um afro-americano com forte pigmentação melanínica.
Jack ofereceu emprego para Kun. Em troca o chinês receberia parte do salário do jornaleiro.
Kun aprendeu rápido como se vender um jornal, embora acredito que essa atividade não seja muito difícil, e aprendeu o valor das notas de dólares, as "verdinhas" como eram conhecidas no oriente.

Chiau ficava sempre à volta de Kun. Sua primeira refeição foi "hot dog". Que ironia.

Mas o que Kun nem imaginava era que Jack usava seu tempo livre como empregador de Kun, para consumir drogas na “cracolândia” de Manhattan.
Jack era viciado desde os seus 15 anos, e agora poderia passar o dia inteiro se drogando ás custas do chinês.

Kun conseguiu alugar um quarto numa pensão no Queens. Toda manhã ele ía até o ponto de vendas de jornal e voltava só à noite para casa. Kun estava trabalhando muito mas tudo aquilo compensava pois ele agora estava na América!

Chiau passava todo o dia em volta de Kun. Ele dava umas voltas perto procurando comida.

Enquanto isso, Jack se drogava cada vez mais e, proporcionalmente, gastava o dinheiro que Kun lhe pagava. Jack estava na beira do poço.

continua...

maio 28, 2002

UM SONHO CHINÊS - II
E conseguiu. Trabalhou 3 meses feito um louco e, a muita custa de seu corpo e muito suor, ele conseguiu "comprar uma passagem" em um navio cargueiro que trazia mercadorias para os EUA.
Ainda no porto de NY, perdido entre containers e máquinas pesadas, Kun encontrou um amigo que veio junto com ele no navio. Um amigo baixinho, antipático, preto com manchas brancas, mas que logo ganharia a sua simpatia.
Chiauchiau era um cão que fugiu do mercado chinês onde era esposto como "alimento". Se não fosse seu espírito guerreiro, essa hora ele estaria sendo comido com sopa.
Eles se dariam bem na América. Kun e Chiau se tornariam amigos inseparáveis.

Kun precisava trabalhar e, ao mesmo tempo, fugir da imigração. Já Chiau precisava comer, e também fugir, só que da carrocinha de cachorros.

-Yo, man! What's up?
Kun não sabia nenhuma sílaba em inglês quando foi interrogado pelo vendedor de jornais.
-Hei man!
Com mímicas (a linguagem universal), Kun se aproximou do homem e explicou sua situação.
Admirado com tamanha hospitalidade do povo americano, Kun se surpreendeu quando o vendedor de jornais lhe ofereceu emprego.


continua...
UM SONHO CHINÊS
Yun Chei Kun era um pobre chinês de 33 anos que vivia em Seul. Ele participou das manifestações na Praça da Paz Celestial há alguns anos, quando vários de seus amigos morreram. Yun Chei veio de uma família pobre, camponeza, com vários irmãos. Cedo, ele foi para a cidade grande tentar a vida. Conseguiu, com muito esforço, entrar na universidade, mas logo teve que abandoná-la pois tinha que trabalhar, e muito.
Kun conheceu um aliciador de trabalhadores que recrutava jovens para servirem de mão-de-obra em produções de larga escala dentro de porões de navios que costeavam o litoral chinês.
Como estava desesperado e precisava mandar dinheiro para casa, Kun se viu obrigado a aceitar o convite.
Passadas duas semanas a bordo, Kun estava se sentindo muito solitário e deprimido. Cansado ao ponto de quase desmaiar, Kun se recostou no convés do navio e contemplou o litoral de sua terra querida que ele aprendeu a amar desde a infância.
Mas valia a pena todo aquele sacrifício para sobreviver em um país que não ligava a mínima para ele? Depois de muita reflexão, ele imaginou uma solução.
Kun estava decidido. Viria para a América ganhar dinheiro, morar em NY e trabalhar em Chinatown...

continua...

maio 27, 2002

Em breve Chiauchiau, o cãozinho chinês que virou jornaleiro na América.
TOP
Como é moda de fazer Tops, do tipo TOP 5 das coisas que amos, que melhor faço etc, estou lançando o TOP 10 DE COISAS QUE MAIS ME IRRITAM :1) meias sem elástico. Daquelas que a gente dá 10 passos e tem que parar só para puxar ela de dentro do sapato;
2) sair do banho e me dar conta que esqueci de trazer a toalha;
3) daí ter que me secar na mínima toalha de rosto úmida que está pendurada ao lado da pia;
4) faltar luz e a água esfriar durante o banho;
5) lavar o cabelo com condicionador;
6) tomar café com leite morno;
7) estar morrendo de fome e, na ânsia de matar a vontade, engolir a comida que está muito quente e queimar a boca;
8) ser acordado por alguém e esse alguém ficar rindo da minha cara só porque dormi demais e não sei onde estou;
9) não ter comida na geladeita quando acordo;
10) ter que conversar na hora de comer. Hora de comer é para comer.

maio 22, 2002

OI QUERIDA

Essa coisinha fofa aí é, nada mais nada menos, que a MINHA Sharon Stone.
Mesmo com um derrame cerebral, o marido atacado por um dragão de Comodo, ser perseguida por um fã e ser roubada por sua empregada, ela continua assim, linda.
Além de tudo é charmosa e inteligente. E nada, nenhum pouquinho vulgar.

maio 21, 2002

O Divino Desjejum
Mais um dia de trabalho. Mais uma cansativa manhã. Ele odiava o chefe, detestava o trabalho, cultivava um horror pelos seus colegas de escritório. Mas algo o fazia ver que o sacrifício de penetrar sua alma no inferno valia a pena.
A melhor parte do dia era a hora do café. Ele não gostava de cafeína, nem da atmosfera da pequena cozinha do escritório: uma sala de 1,50m por 1,50m, com uma pequena mesa onde repousava uma toalha velha de plástico, a pia enferrujada e o microondas suspenso na parede. Mas era naquele lugar, naquele purgatório com cheiro de manteiga e teto mofado, que sua inspiração lhe aparecia.
A secretária. Ahhh, a secretária! Ele a conheceu no mês anterior e, desde então, não a tirou mais da cabeça. Ele não sabia dizer o porquê. Talvez pelos seus olhos amendoados, ou seu cabelo sedoso. Quem sabe pela sua boca carnuda ou o seu perfume. Mas a secretária que freqüentava todo o dia, à mesma hora, a cozinha do escritório, fazia o seu dia de trabalho no inferno valer a pena.
Foram se acostumando, um com a presença do outro. Certo dia ela lhe emprestou a colherinha para ele mexer seu café. Foi o primeiro passo. E a cena ele jamais esquecerá: com movimentos circulares, ela formava um turbilhão negro na pequena xícara de porcelana, provava a escura bebida com receio de queimar os lábios. A colher entrava em sua boca com delicadeza e a abandonava fazendo com que seus lábios ainda abraçassem o objeto, parecendo que não queriam se separar.
Em cada manhã havia uma poesia. Uma comédia. Uma “Divina Comédia” digna de Dante. Ele entreva no inferno às 8:30h da manhã. Na metade do turno, passava ao purgatório minúsculo com cheiro de manteiga, e lá, aguardava a sua Beatriz, que lhe guiaria pelo paraíso de imagens que ele testemunhava com seus olhos fantasiosos.
Mas em um certo dia, entrando na cozinha, ele encontrou um aviso: “A CAFETEIRA ESTÁ ESTRAGADA.” Isso serviu para ele entrar em pânico. Esperou durante 45min. Sua deusa adentrar no recinto. Mas nada.
Ele se desesperou e desceu até o bar da esquina. Olhou em volta e reconheceu aqueles cabelos perto do balcão. Ficou observando e seu coração disparou. Mas quando a sua Beatriz se virou para o lado, buscando o açucareiro, mastigando um pastel vorazmente, ao lado de um velho que fazia jogo do bicho e tomava cerveja, ele despencou. Nada daquilo era pelo que ele havia se apaixonado. Aquela mulher, agora desconhecida, que sua imagem se confundia por entre os pôsteres de cerveja e as garrafas de cachaça expostas na parede, não era a mesma.
O desejo, a esperança, a fantasia, se foram pelo ralo da pia engordurada daquele bar e sua vida mudou. Com raiva, ele voltou à cozinha do escritório, quebrou o microondas e foi despedido. E nunca mais encontrou sua Beatriz.

ALTA FIDELIDADE
Robervaldson estava desempregado. Já havia feito de tudo na vida. Começou cedo, aos 12 anos ajudava o pai que era pedreiro. Aos 14 foi iniciado por um tio na arte da padaria. E assim por diante. Mas como a maior parte do povo brasileiro, ele perdeu o emprego e não conseguiu mais entrar no mercado de trabalho. Nem no informal.
Rober, como a sua mãe lhe chamava desde menino, comprava os classificados todos os domingos na esperança de achar uma oportunidade. Ele topava qualquer coisa: telemarketing, panfletagem, segurança.
Em uma tarde de domingo, após ver o clássico Paissandú e Internacional de Limeira pela televisão, Rober começou a folhear o jornal procurando uma oportunidade. Já desiludido pelos inúmeros anúncios inúteis, sua atenção foi chamada para o canto inferior direito da última página: Precisa-se de um segurança para trabalhar na zona norte 6h/dia. O trabalho é em uma residência e o candidato não precisa ter experiência. Interessados, comparecer amanhã na primeira hora da tarde na rua Moscowitz, 49. Nossa! Isso parecia muito interessante.
Na manhã seguinte Robervaldson acordou entusiasmado. Acendeu uma vela para o seu santo, botou sua melhor roupa, fez a barba, se perfumou e foi à luta.
- Amor, disse Rober para sua esposa, Lucélia. Tenho uma entrevista de emprego. Me deseja boa sorte.
- Pódexá, môre!, respondu sua esposa com um sorriso irônico e levantando a sobrancelha esquerda.
Depois de andar mais de cem quilômetros dentro da cidade, e pegar três ônibus para chegar à entrevista, Robervalson encontra uma bela casa na rua Moscowitz, 49.
Tocou o interfone e uma voz de mulher pediu para que ele entrasse. Subiu as escadas e a porta da grande casa se abriu.
- Boa tarde. Vim para a entrevis...., antes de acabar a frase, ele é surpreendido por uma linda loira de olhos azuis, seios fartos, lindas e compridas pernas à mostra e um sorriso infinito aberto no rosto.
- Boa tarde! Meu nome é Sheila. Fique à vontade. Pode sentar.
Robervaldson tremeu na base com tamanha loira à sua frente, mas encarou, da forma mais tranqüila possível, sentar ao lado daquela maravilhosa mulher que lhe tratava tão bem.
- Seu nome é...?
- Robervaldson Uóchinton da Silva, senhora.
- Nossa, que lindo nome! Parece nome de presidente da ....França! Posso te chamar de Rober? (* Obs1.: a loira confundiu Uóchinton com Washington e também confundiu o país. Deveria ser EUA).
- Pode sim senhora.
- Pois bem, Rober...hihihi. Você não está com calor?, perguntou a mulher se insinuando.
- Não dona, obrigado., respondeu ele suando feito um porco que entra no abatedouro.
- Rober...Uóchinton, né?
- Não dona, Robervaldson.
- Háaa, claro.
- Rober...uóchinton, a vaga que está aberta é para segurança. Meu segurança. Como a violência está muito, muito...(* Obs2.: nota-se aqui que o vocabulário da loira era estupidamente restrito) muito grande e eu sou uma mulher rica, bonita e...rica, resolvi contratar um segurança para me proteger. E parece que você faz o tipo de segurança que eu estou procurando.
Robervaldson, ainda que humilde, simplório, inocente e feio, notou que a sua futura empregada estava dando em cima dele. Mas, contrariando o que o seu instinto afirmava, ele tentou acreditar que ela estava apenas tentando ser simpática.
- Roberuóchinton...
- Robervaldson, dona.
- Ok...você é casado?
- Sou sim senhora!, respondeu ele se arrependendo da resposta quando acabou de dizer a frase.
- É casado então.
- Sim. É...ãhhh, sou sim.
- Então você é casado, mesmo?
- Sim....sou casado.
- É que estou atrás de um segurança...já lhe disse que você tem olhos muito bonitos?, interrompeu o assunto a mulher.
Rober já não entendia nada. “Meus olhos bonitos?”, ele pensou. Aqueles olhos opacos, cansados, com várias veias vermelhas dando a impressão que acabara de sair de uma piscina extremamente concentrada de cloro. Ele estava tremendamente sem jeito. Escondendo o rosto pela timidez, ele responde:
- Não senhora...não.
- Lindos olhos. Pois bem. Preciso de um segurança que passe muito tempo comigo. Que vá às compras comigo, que me leve ao clube, à academia, na casa das minhas amigas...assim, um guarda-costas, tipo naquele filme, com aquela mulher...e aquele ator...como se chamam? Celine Dion e o cara q eu fez Indiona Jones (Obs 3.: a loira sabia muuuuiito de cinema!).
- Sei sim.
- E que tenha mãos fortes, braços fortes, que seja forte.
Rober era muito magro. Mas ele sentiu que o elogio era para ele e a loira estava cada vez mais perto. Seu raciocínio foi interrompido:
- Você me acha gorda? Acha? Pode dizer. Vou dar uma voltinha, olha bem., a loira se levantou e começou a desfilar a um palmo do nariz de Robervaldison.
- Isshhhh, Nossa Senhora. O que eu tô fazendo aqui, resmungou ele.
- Eu acho minha bundo “meia” grande. O que você acha? E os meus seio...sabia que botei silicone? Quer tocar?
Rober estava suando frio. Estava muito nervoso. Não conseguia pronunciar nenhuma palavra. Mulher boa daquelas só havia visto na oficina do Zé Luis, seu amigo, e em pôster ainda.
A loira se insinuava ainda mais até que ela senta no colo dele, chega bem perto de seu ouvido e peregunta:
- Rober, você é tão sexy. O que você acha de irmos para um barzinho para conversarmos melhor. A faxineira está chegando e o aspirador de pó faz muito barulho. Vamos? Robervaldson concordou e eles foram no carro de Sheila para um bar ali perto.
Chegaram no bar e a loira continuou a lançar suas garras sobre o pobre desempregado. E ele estava caindo direitinho. Jamais uma mulher daquele porte havia lhe dado a atenção. Ainda mais aquele tipo de atenção.
- Rober, você é o meu tipo, sabia? Ele já estava completamente sem jeito:
- Não...não senhora.
- Nós podemos nos encontrar de noite...assim...gostoso. Em um lugarzinho, só nós. Ele engoliu seco aquele convite. Não sabia o que fazer, então pediu uma Coca-Cola.
A loira chegou bem perto dele e começou a lhe acariciar a cabeça, depois os braços. Lhe susurrava no ouvido. Rober já estava quase, mas quase, mas quase mesmo se entregando, quando Sheila olha para ele e diz:
- Está vendo aqiele espelho? Você acabou de participar do Teste de Fidelidade do joão Kléber. Dá um tchauzinho pra Lucélia, dá.
Robervaldson se sentindo o último da face da Terra, olhou para o espelho e falou:
- Oi amor.


- Pára tudo! Vocês viram que ele tocou na perna da moça! Como é que é, produção? Tiveram que cortar porque ele queria ir além? Como é? Ele queria mais, é?
O auditório vai à loucura. Lucélia estava no meio do palco olhando para o monitor e vendo o teste que ela arranjara para ver o quanto fiel era seu marido.
- Picachu...é agora! É agora. Entra Robervaldson!
Nesse momento, Rober entra no palco com uma cara de cachorro ladrão e com um buquê de rosas na mão. Se dirige à Jucélia e diz:
- Não é nada do que você está pensando. Foi uma brincadeira.
- Brincadeira? Eu vi você cantando aquela loira. Vi você olhando pros peito dela. Você pediu pra ela desfilar? Nunca me pediu isso!
- Mas Ju...meu amor!
- Não me chama de meu amor! Quero me separar. Não te quero mais. Isso é traição! Eu vi você passando a mão nela!
- Não foi nada disso!
Passaram cinco minutos discutindo em rede nacional. Jucélia começou a chorar e Robervaldison teve que lhe pedir perdão por algo que não fez. Ele não conseguiu o emprego e ainda teve que aturar a gozação “do pessoal da rua”. João Kléber bateu mais uma vez o recorde de audiência. E a loira, a Sheila, posou para uma revista masculina.